*Por Antonio Carlos Estevam
Foi num tempo em que eu, aluno, nada havia lido ainda sobre o
assunto.
Curso Normal (mais tarde curso de Magistério), limiar dos anos 70.
— Boa noite! — adentrou a sala a titular da cadeira. Traçou na
lousa um triângulo.
— Aula de Geometria?
— Não; de psicologia mesmo!
No vértice superior, inscreveu “i”; nos dois
inferiores “e” e “v”. Explicou:
i nteligência, e moção, v ontade. E perguntou:
— Qual é mais importante?
— Qual não deve faltar na pessoa?
— Qual é dispensável?...
A mestra não se surpreendeu com a tendência, no caso, dos futuros
docentes: atribuir maior importância ao fator que, propositalmente,
encabeçava o polígono. Debate para cá e acolá...
Passei essas quatro décadas a reparar nas pessoas que vencem.
Enumerei brilhantes inteligências que não alcançaram a vitória,
mesmo tendo bom controle emocional. Constatei que muitos dos
menos dotados intelectualmente e até mesmo emocionalmente
tornaram-se vencedores. Mas, quando o quantitativo dos que não
primavam pela vontade era maior, aí predominavam os derrotados.
Como bem já ensinara a mestra:
Vencer na vida exige que os três fatores sejam cultivados; a falta de
um deles distancia do êxito, da realização. Mas, há sim um mais
importante. E não é o controle emocional, mas também não a
inteligência. Surpresa? É a vontade!
Aplicando o (singelo?) ensinamento da reverendíssima, pois, fica
fácil entender o que tanto intriga as pessoas, por exemplo, quando
alguém visto como intelectual não alcança o sucesso na vida;
igualmente quando outro visto como menos dotado, relativamente
a esse mesmo fator, vence. E também quando os menos controlados
emocionalmente podem ser vistos (estranhamente?) em maior
número dentre os vitoriosos.
Algumas das lições que parece recomendável tirarmos da reflexão a
que leva este texto: há que se tomar cuidado com o fato de se ser
melhor classificado quanto ao nível de inteligência; há, às vezes,
que se incomodar menos com o controle emocional, quando o que
aí falta sobra na vontade.
*Antônio Carlos Estevam. Cronista e ensaísta, é membro efetivo da Academia Ubaense de Letras, sucedendo ao escritor Sílvio Braga na cadeira n. 21, que tem por patrono o jornalista Octávio Braga.
Estevam é produtor do veículo de comunicação independente Djaôj... e explica que não é sigla, é o nome completo do informativo. A pronúncia pelo homem do campo sói ser ouvida dijaôiji, querendo dizer: recentemente; há pouco tempo; ainda hoje... Exemplo: “— Tem visto fulano? — Uai, di-já-ôi-ji ele teve aqui". No caso do nosso periódico, “Djaôj...”, assim com reticências, significaria, mais ou menos: noticiando fatos, preferencialmente recentes.
A expressão tem como base a canção “De já hoje” com letra e música do cantor e compositor nativista gaúcho Adair de Freitas.
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