No mundo atual, é preciso conciliar pensamentos para se construir uma verdade mais duradoura. Ao tempo em que é mister corrigir aquilo que, insustentavelmente, incomoda. Quando esse incômodo é apenas um desejo egoísta, a mudança urge.
Incomoda a falta de vontade que as pessoas têm de compreender umas às outras, na expectativa de entenderem melhor suas relações. Rola contradição nesse ponto, que indigna a gente quando se deixa afetar por isso.
A realidade necessária de ser mudada pode ser algo partidário da ignorância das massas, porque é cômodo para muita gente limitar seu mundo somente ao que sua mente diz e aceita como verdadeiro.
É forçoso admitir que é um mal necessário os indivíduos se desencontrarem, porque isso os motiva a procurar respostas em outras coisas, tirando as pessoas de sua zona de conforto, levando-as a se unir com outras que pensam igual a elas, criando tribos sociais e, assim, contribuindo com a diversidade do mundo. Defender correções do que precisa ser mudado há que ser acompanhado da preocupação de como a falta disso pode gerar desequilíbrio na forma como as pessoas convivem.
Convenhamos, por exemplo, que a pobreza do mundo incomoda de forma insustentável. Incomoda tanto que certas pessoas, para poder continuar vivendo mais felizes, optam por ignorar essa realidade. Antes de resolver a pobreza do mundo, é preciso passar por uma preparação psicológica muito forte. E se compenetrar de que acabando com a pobreza iríamos gerar outro mecanismo de doença para ocupar esse lugar, porque é quase impossível mudar a mentalidade do ser humano para que ele abra mão da sensação que é ter abundância.
A maioria das pessoas sabe que a pobreza é algo ruim, mas nossa capacidade de adaptar a realidades adversas é tão grande, que acabamos associando normalidade ao caos. As pessoas que se sujeitam a mudar correm o risco de se apagarem pela carga que recebem por estarem praticamente sozinhas.
Seria o caso de mudar partes de cada comportamento humano destrutivo, gerando um equilíbrio sustentável. Mas isso é tão complexo e difícil de aplicar, porque o motivo da mudança não chega a ser motivo de incômodo a ponto de criar um desejo suficiente para migrar, digamos.
Quando acontecem eventos de mudanças radicais na sociedade, partindo de grandes líderes, o resultado de uma mudança nunca é um plano arquitetado desde o início, mas algo que se percebe possível no trajeto de uma vida de benefícios. O mundo converge para uma necessidade, quando mensagens circulam por campos variáveis e complexos que nem mesmo o mensageiro imagina que vai passar, por mais que ele sinta que muitas coisas boas estão por vir.
Aliás, para tudo aquilo que você quer que dê certo, como o benefício de um grande grupo social menos favorecido, é necessário realizar o desapego de emoções referentes ao grupo. É preciso realizar cálculos frios para poder chegar a um objetivo unânime, removendo obstáculos que podem pôr seu plano à falência.
Tudo que incomoda não gera mudança suficiente para correção, mas retarda, é que a mudança de fato vem através de uma necessidade lógica de mudar, livre de interferências naquele que quer mudar. Incômodo é um obstáculo, um perigo para a mudança efetiva.
Para não alongar mais, vamos ao caso de um indivíduo (nome que preferimos não revelar) cuja contumácia em comportar-se como quem pensa no que resume o título acima inspirou a presente crítica:
Detentor de fórmula mágica(?), há quem — incorrendo no que este escriba convencionou chamar de erro de avaliação — defenda a drástica redução do contingente populacional do planeta, a que custo for, como providência suficiente à solução definitiva. Como se esta existisse assim simples, resumida. Ao arrepio de quem o sugere ser integrante desse universo da pobreza, tal indivíduo chega a propor, evidente, o sacrifício de vidas humanas. Mas, o faz como quem diz: “Desde que não eu; nem os meus!”.
Leia também: Um barnabé, ou não é?
*Antônio Carlos Estevam. Cronista e ensaísta, é membro efetivo da Academia Ubaense de Letras, sucedendo ao escritor Sílvio Braga na cadeira n. 21, que tem por patrono o jornalista Octávio Braga.
Estevam é produtor do veículo de comunicação independente Djaôj... e explica que não é sigla, é o nome completo do informativo. A pronúncia pelo homem do campo sói ser ouvida dijaôiji, querendo dizer: recentemente; há pouco tempo; ainda hoje... Exemplo: “— Tem visto fulano? — Uai, di-já-ôi-ji ele teve aqui". No caso do nosso periódico, “Djaôj...”, assim com reticências, significaria, mais ou menos: noticiando fatos, preferencialmente recentes.
A expressão tem como base a canção “De já hoje” com letra e música do cantor e compositor nativista gaúcho Adair de Freitas.
academiaubaensedeletras@gmail.com